Ética Na Mídia
Written on 08:56 by Débora
ÉTICA NA MÍDIA
A notícia como espetáculo.
Débora da Silva Andrade
Fernanda Oliveira Santos
RESUMO: A ética jornalística é de caráter fundamental numa sociedade como a nossa que vive na era da informação. É necessário discernimento, pessoas sensatas e acima de tudo éticas, para que essas informações cheguem
às nossas casas livres de qualquer forma de distorção e manipulação. Por isso, esse poder formador de opinião que a notícia possui, deve ser visto com cautela e deve analisado para que nos tornemos, não apenas sugadores de informações, mas sim, formadores de nossas próprias opiniões.
PALAVRAS-CHAVE: Ética, informação, desinformação, TV, notícias, jornalismo, influência.
Antes de entrarmos na questão da ética jornalística, tema que pretendemos abordar neste artigo, precisamos conhecer o sentido semântico da palavra ética. Segundo o dicionário Luft, Ética é o “conjunto de regras e de valores aos quais se submetem os fatos e as ações humanas, para apreciá-los e distingui-los; moral.” Do ponto de vista etimológico, 'ética' deriva de ethos, que é uma palavra grega que significa comportamento. Dessa palavra deriva também o termo etologia, que segundo Dutra (2003, p. 14) corresponde ao “estudo do comportamento humano e animal, na sua vertente biológica.” A ética também é considerada uma ciência do comportamento moral dos homens em sociedade, que deve, gerenciar e orientar as intenções humanas.
Na área jornalística, o termo ética é bastante difundido e principalmente cobrado. Um órgão que trabalha com a informação, não pode ter entre suas características a qualidade, se a ética não se apresentar unida às suas produções. Podemos encarar a ética jornalística como a ética do cidadão, já que na notícia são tratados assuntos da sociedade para a sociedade. O jornalista tem que se ater a um fato crucial: mesmo a informação sendo direito fundamental da sociedade, a autocensura, como forma de ocultar informações que caberia divulgar junto à opinião pública, deve ser sempre praticada, visando a privacidade das pessoas e a integridade das informações.
A forma mais comum de recebermos notícias sobre algum acontecimento ocorrido na sociedade é pela TV, veículo informativo mais difundido das últimas décadas. As informações são passadas rapidamente através de vídeos e imagens, e por isso tem um alcance inconsciente bem maior do que outras formas de informações, como afirma o autor do livro O poder da TV:
...essa ordem absolvida pelo telespectador não passa, em geral, por nenhuma critica. A televisão não é como um livro, ou sequer como um jornal impresso, cuja leitura podemos interromper refazer, submeter a reflexões demoradas. A dinâmica da imagem solicita respostas imediatas de quem a ela esta submetido. As reações são reflexas, rápidas. Esse mecanismo é muito eficaz quando se trata de manter oculta a estrutura do texto ou a concepção que esta na base da disposição segundo a qual as imagens são apresentadas. (José Arbex, 1997, p.13)[1]
Segundo Di Franco (1995, p. 13), “A televisão precisa ter balizas étnicas operativas, sem as quais ela se torna uma seqüestradora da cidadania.” Porém estamos tão habituados a ligar nossos aparelhos de televisão, assistir aos telejornais que todos os dias nos bombardeiam com “informações”, imagens, valores (muitas vezes subliminares), absorvemos todo seu conteúdo, sem ao menos pensar naquilo que nos é passado, ou questionar a utilidade daquilo, ou simplesmente indagar: a quem aquela informação está servindo? Qual é o seu propósito?
Todos esses questionamentos que foram colocados aqui de maneira tão banal, só os são na aparência. O poder de sedução da mídia é por natureza muito forte, não podendo ser totalmente explicado. Mas vamos começar por apontar alguns de seus artifícios.
Uma primeira consideração a ser feita é sobre o poder da TV como aparelho das massas, em seu relativo pouco tempo de existência a televisão conseguiu submeter os outros meio de comunicação, como por exemplo, o jornal impresso, a seguir sua formula de sucesso, que consiste no não aprofundamento na noticia, repetição de imagens. Sendo essa fórmula uma via de mão dupla, onde se abre mão da profundidade e tem como retorno a agilidade e um quantitativo maior de informações.
“Paulatinamente, percebi que a televisão não era um, mas sim o meio de comunicação de massa. Mesmo a imprensa escrita tende, no mundo inteiro, a imitar os procedimentos televisivos, que explica introdução, nos últimos anos, das fotografias coloridas e dos novos estilos de diagramação dos jornais, cujo principal objetivo é torná-los ‘visuais’: leves, eficazes e ágeis. De certa forma, os jornais estão se transformando em ‘televisões impressas’, de tal que a leitura de um jornal, se há alguns anos implicava um ritual que demandava horas, hoje pode ser feita em alguns minutos. O que se perde em profundidade, ganha-se em rapidez e quantidade de informações e serviços.” (José Arbex, 1997, p.18)[2]
A TV utiliza uma forte maquiagem, que tem por objetivo mascarar o que é passado, dando-nos a impressão que aquilo é “verdade”[3], essa tal verdade que é tratada na mídia de maneira a atender os detentores do poder, às classes dominantes, servindo assim como instrumento de reafirmação da ordem vigente, fazendo com que a população absorva valores através dos diversos programas, particularmente do jornalismo, que é encoberto com o véu de uma pretensa imparcialidade que não se efetiva. Pois como é possível notar ao assistir qualquer telejornal às diversas taxações que as pessoas recebem, exemplo bem claro disso são os adjetivos recebidos pelos movimentos sociais, um deles é o MST, que tem seus integrantes chamados de invasores[4], esse termo já se mostrando de caráter discriminatório.
As suas intensas imagens e os fatos apresentados com certa superficialidade criam uma espécie de cortina de fumaça, encobrindo assim a visão da população, são tantas coisas a serem absorvidas e tão pouco tempo para digeri-las, que elas acabam escapando a uma analise mais atenta. Diferente de uma leitura, que exige um esforço maior para o entendimento, em uma época que quantidade tem mais valor que qualidade, onde se tem como ideologia vigente que não sé pode “perder” tempo, pois “tempo é dinheiro”.
Freqüentemente em virtude desse excesso de informação nasce em nós um sentimento de apatia, de familiaridade com o caos mostrado naqueles telejornais, a imagens de guerras, brigas, destruição, fome, entre outras mazelas mostradas. Enquanto nós assistimos a tudo isso na proteção do nosso lar, nos tornamos meros espectadores do mundo mostrado pela televisão.[5]
Segundo José Arbeux:
Essa familiaridade com o mundo já visto é contraditória com o espírito de jornalismo tradicional, anterior ao pós-modernismo, que de alguma forma buscava o inédito, o inusitado, aquilo que incomodava por abrir novas possibilidades para a história e para o mundo[...]. Agora, ligamos a televisão porque sabemos que ali veremos homens mordendo cães, só que num contexto cujo destino é nos confirmar que nunca nada vai mudar.
Tudo muda para ficar sempre igual- é o que ensina o ritual cotidiano da presentificação do mundo pela televisão. A quantidade absurda de informações a que somos expostos, e da qual absorveremos uma parcela ínfima, acaba tendo essa função paradoxalmente tranqüilizadora- ou talvez seja melhor dizer anestesiante. O mundo está um caos, OK, mas tudo está igual, então posso dormir. (José Arbex, 1997, p.17)[6]
Precisamos saber como estão as coisas ao redor do globo, mesmo que esses acontecimentos não tenham uma ação direta sobre nós, mas para termos a sensação de que estamos mantendo contato com os meus semelhantes, ainda que jamais os veja, ainda que eu esteja mais isolado ainda com essa atitude de ficar com os olhos presos em frente a uma tela.
Concluindo o raciocínio, o telejornalismo convida os telespectadores através de sua simulação da realidade a entrar num mundo, diferente do que vivenciamos nos seduzindo através de inúmeras imagens e de uma dinâmica intensa, tendo como base não o aprofundamento da noticia, e sim a quantidade delas vinculadas. O tanto que se ganha em rapidez, perde-se em conteúdo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ARBEX, José. O poder da TV. São Paulo: Editora Scipione, 1997.
DI FRANCO, Carlos Alberto. Jornalismo, ética e qualidade. Petrópolis: Vozes, 1995.
DUTRA, Delamar V.; DALL’AGNOL, Darlei; BORGES, Maria de Lourdes. Ética. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2003.
[1] ARBEX, José. O poder da TV. São Paulo: Editora Scipione, 1997.
[2] ARBEX, José. O poder da TV. São Paulo: Editora Scipione, 1997.
[3] “reproduz-se através da TV uma certa estruturação de mundo que não é “natural”, mas fabricada segundo a ótica de quem controla os meios e a tecnologia para essa fabricação. Só que essa é uma lógica oculta, apresentada sob o signo de uma ‘verdade’ que a identificação social eleva a categoria indestrutível de ‘realidade’.”
[4] Invadir: v.t.d. 1. Entrar à força ou hostilmente em. 2. Difundir-se, espalhar-se por. 3. Tomar, dominar. (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, 2001, p.399). Atrelando também o movimento a idéia de baderna, e dando um enfoque unilateral em suas reportagens, pois normalmente só são ouvidos as forças policiais, ou os pretensos proprietários das terras.
[5] “estranhamente, o excesso de informação conduz a esse estado de desinformação, de redundância, de não-registradas informações. É um estagio já mais avançado do que a banalização da mal ( ...). É a perda total de referencias concretas, é perceber o mundo como se vivêssemos numa espécie de suspensão hipnótica, cm imagens que se sucedem sem realmente afetar nossas vidas. Uma exterioridade que nos torna, a todos, estrangeiros.”(José Arbex, 1997, p.17e 18)
[6] ARBEX, José. O poder da TV. São Paulo: Editora Scipione, 1997.
